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Melhor idade

– Terceira idade: em busca de alternativas para viver melhor

 

Pessoas com mais de 60 anos cada vez mais empregam o tempo livre aproveitando as novas oportunidades que a vida oferece. Os cursos voltados para a terceira idade têm mudado a vida de milhares de homens e mulheres de todo o país. Universidades e escolas especializadas têm trazido muito alegria e esperança para esse público, ofertando cursos que trabalham as mais variadas habilidades como dança, informática, direito etc. Os resultados são impressionantes. Acompanhe o relato de algumas experiências de alunos que decidiram mudar de vida e não conseguem mais viver fora desse novo universo de aprendizado, onde qualquer esforço vale a pena pelo resgate da alegria de viver.

 

 

“Capriche no nosso visual como a gente faz com nossas pinturas”, recomendou Lourdes, 64 anos, enquanto se despedia da repórter na porta da sala de aula. Lourdes não é professora, mas aluna. E o curso não é de graduação ou pós-graduação, mas de artes. 


Ela faz parte da turma de seis alunos que dedica suas tardes de segunda-feira a aprender a pintar. Outros alunos ocupam a sala pela manhã e nos outros dias da semana. Informática, dança de salão, teclado, teatro, francês e mais nove modalidades são ensinadas diariamente aos interessados com mais de 40 anos.

 
O projeto faz parte da Universidade Aberta para a Terceira Idade, a UnATI, que funciona há 14 anos em duas unidades da UnP de Natal. Mas, se a terceira idade é só a partir de 60 anos, por que matricular alunos com 20 anos a menos? “Nessa idade o indivíduo começa a se perceber com um novo olhar. Ele não é velho, mas já não se sente tão jovem. É um período de dúvida”, explica Deneide Guedes, coordenadora do projeto há oito anos. Para Deneide, pensar o envelhecimento já a partir dos 40 ajuda a prevenir sintomas comuns na terceira idade, como a solidão e a depressão.

 
É o que faz Daranzate, de 50 anos. Ele é professor de matemática da rede estadual e sempre trabalhou nos três turnos. Recentemente decidiu encontrar uma brecha em sua rotina corrida para aprender a pintar, uma paixão antiga. “Tomei essa atitude depois de ver minha mãe, que envelheceu completamente ociosa porque só aprendeu tarefas domésticas durante sua vida”, comentou Daranzete. 


Medo do envelhecimento não é propriamente o que caracteriza Mariazinha, 84 anos. “Não me assombro com pouca coisa”. Ela sofreu um traumatismo craniano há dois meses e passou alguns dias na UTI, mas logo que pôde voltou às aulas de pintura, que freqüenta há três anos. Agora se preocupa em terminar o quadro de uma menina com trança no cabelo e vestido cor de rosa, e enviá-lo à neta que mora na Suíça.

 
A enfermidade de Mariazinha não desanimou os colegas de turma. “Aqui é proibido falar em doença”, diz Maria Regina James, de 56 anos. “A pessoa vem aqui para ter o que não encontra em casa: um ambiente leve, sem a sombra da enfermidade ou da morte”. 

 

O “ambiente” de que fala Regina pode ser traduzido por atenção, carinho e respeito que esses alunos freqüentemente não encontram em casa. “Eles estão num ritmo diferente dos filhos e dos netos, que não costumam parar para ensinar alguma atividade. Aqui, quem determina o tempo de aprendizado são eles”, comenta Ana Carla, professora de informática, uma das aulas mais concorridas. 


Na era virtual, navegar na internet e trocar e-mails significa também inclusão social, objetivo maior daqueles que têm ainda pelo menos um quinto de suas vidas pela frente.
 
Ainda impregnados com a idéia da expectativa de vida de décadas passadas (em 1950 vivia-se em média até 46,5 anos), as pessoas se acostumaram a pensar que a proximidade dos 60 anos significa proximidade da morte. 


Mas a expectativa de vida mudou tanto desde então que alguns a chamam de “revolução demográfica”. No último meio século, a vida média dos brasileiros pulou em cerca de 20 anos. A previsão é de que em 2030 a expectativa chegue a 78,33 anos. 


Mas as políticas públicas parecem não acompanhar o envelhecimento populacional. “A gente precisa de mais praças, de melhoria nos transportes públicos, de programas especiais na saúde e de um programa como a UnATI em cada bairro da cidade”, lista Ana Cristina Cabral, especialista em envelhecimento saudável. 


É o que também esperam Mariazinha, Lourdes, Daranzate e mais os 10% da população do Rio Grande do Norte que têm acima de 60 anos. Eles querem viver os muitos anos que restam com qualidade de vida, e o que é melhor: com toda a experiência a seu favor. O que significa não “perder tempo” com o futuro. E caprichar no presente como fazem com suas pinturas.

 

Fonte. www.nominuto.com